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Pessoal,
os jogos olímpicos chegaram ao final e chega a hora da avaliação dos resultados sob a ótica da gestão. Essa análise será feita sobre três aspectos : dos esportes que trouxeram medalha, do caso de excelência do voleibol brasileiro e os resultados da delegação Brasileira,
Na análise dos esportes que trouxeram medalhas, tivemos destaques individuais com Cesar Cielo e Maurren Higa Maggi. Duas histórias de superação. Cesar Cielo que optou por estudar e treinar em universidade americana e, por essa razão, teve o seu patrocínio cortado. Cesar Cielo que, ao final da semifinal para a prova dos 100 metros livres, estava desconsolado porque achava que estava fora da final, percepção essa que estava errada. Com isso, partiu para a final dos 100 metros na raia 8, a pior raia. No entanto ganhou o bronze e depois de sair da piscina, deu entrevista falando da sua felicidade e que já estava concentrado para ir buscar o ouro nos 50 metros livres, esbanjando auto-confiança. Nesse caso, esse bronze valeu o ouro, pois se não fosse ele, Cesar Cielo não teria a mesma confiança para vencer os 50 metros.
O Caso de Maurren é um caso de superação. Na melhor fase da sua carreira, foi acusada de doping em 2003 e punida com dois anos de suspensão. Nesse tempo, ela casou, teve uma filha e chegou a abandonar o esporte. Retornou em 2006 porque precisava sustentar a sua filha. Muitos não acreditavam que ela voltaria a competir em alto nível, mas a resposta começou a ser dada no Pan de 2007 no Rio de Janeiro com a medalha de ouro. A sua medalha de ouro na olimpíada foi ganha no detalhe com apenas 1 centímetro de diferença.
Os outros esportes, como a vela e o vôlei de praia, passam por um momento de transição. Sobre o vôlei, eu comentarei no parágrafo mais abaixo. Quanto a vela, já não contamos com Torbem Grael, Brasileiro com o maior número de medalhas da história, e temos o Robert Scheidt trocando de categoria e mesmo assim trazendo um grande resultado que foi a medalha de prata nessa olimpíada e a conquista do último campeonato mundial na classe Star.
O destaque da delegação brasileira como esporte foi o vôlei que trouxe 4 das 15 medalhas no total, sendo que apenas o vôlei de praia feminino não trouxe uma medalha. Esse resultado do vôlei não é a toa. Ele é fruto de um trabalho de longo prazo que envolve o desenvolvimento das categorias de base onde o Brasil ganha quase tudo, infra-estrutura de excelência em Saquarema e um trabalho de gestão que envolve patrocinador forte e planejamento estratégico.
Para se ter uma idéia da importância do planejamento estratégico, desde que houve a mudança no tamanho da área de jogo no vôlei de praia, passou a ter mais importância a força do que a habilidade, mudança essa que não foi benéfica para os jogadores brasileiros, principalmente no feminino. Fato esse comprovado pela vitória das duplas americanas no vôlei de praia com Walsh e May, que dominam o circuito desde antes das olimpíadas de Atenas/2004, e com Rogers e Dalhausser que literalmente bloqueou a dupla brasileira no tie-break.
Antes da mudança, as jogadoras do feminino dominavam o circuito devido a grande habilidade que possuiam com as duplas Jaqueline e Sandra e, Adriana Behar e Shelda, mas com as mudanças, a altura das jogadoras passou a ser fator decisivo para o ataque e o bloqueio. Em virtude disso, a seleção de novas jogadoras para o vôlei de praia no centro de excelência de Saquarema passou a contar com o critério altura onde jogadoras com 16 anos devem ter no minimo 1,70 m de altura.
O Vôlei de quadra feminino do Brasil confirma a importância do planejamento de longo prazo. Em Atenas/2004, o técnico José Roberto Guimarães assumiu a seleção feminina em agosto de 2003, faltando menos de 1 ano para as olimpíadas e após uma temporada com poucos resultados da equipe feminina. Mesmo diante das dificuldades, a seleção feminina chegou perto de uma final olímpica, esbarrando nos famosos “24 a 19” do quarto set com a Rússia na semifinal, fato esse que acompanharia a trajetória do treinador em vários ginásios em que sempre havia um cartaz com o placar “24 a 19” na torcida adversária. A partir daí, ele foi mantido como técnico da seleção e iniciou um novo ciclo olímpico de 4 anos. O Resultado desse planejamento foi a medalha de ouro em Pequim/2008.
Outro resultado fruto do planejamento de longo prazo é o vôlei de quadra masculino em que chegamos a segunda final consecutiva. Mesmo ganhando a prata, é uma equipe com excelentes resultados (25 finais e 21 titulos em 27 torneios) nesses oito anos sob o comando do técnico Bernardinho. Aliás, cabe aqui um parêntese. No post “E agora Bernardinho”, eu havia previsto a dificuldade que seria enfrentar a seleção americana devido ao uso constante de informações estatísticas, fato ressaltado durante a transmissão da TV Globo pelo comentarista e ex-jogador de vôlei Tande. Agora, o desafio do técnico Bernardinho é conduzir a renovação dessa equipe para o próximo ciclo olimpico, uma vez que alguns jogadores já declararam que encerraram seu ciclo na seleção.
Em termos de medalhas de ouro, nossa participação iguala-se a olimpíada de 1996 em Atlanta-EUA como a segunda melhor campanha e em termos de quantidade total de medalhas iguala-se a campanha de 2004 em Atenas na Grécia, mas talvez a melhor comparação a ser feita é com as olimpíadas de Sidney na Austrália devido a dificuldade trazida pelo fuso horário de 11 horas de diferença em Pequim, sendo que na Austrália essa diferença de fuso era de 14 horas.
O parágrafo acima tratou de analisar a participação do Brasil em termos de medalha, mas temos que fazer uma avaliação em termos de evolução do esporte nacional. Muitos esportes apresentaram evoluções. Nesse grupo, podemos incluir :
– Ginástica artistica – > Chegamos pela primeira vez a uma final de aparelhos no masculino com o Diego Hypólito que, infelizmente, falhou aos 46 minutos do segundo tempo. Chegamos pela primeira vez a uma final por equipes no feminino, com duas atletas na final feminina no individual geral, duas atletas nas finais individuais femininas (solo e salto sobre o cavalo). É uma evolução muito grande se compararmos com outros anos onde no máximo chegamos a uma final no individual feminino;
– Natação – > Chegamos a mais finais (5 no masculino e 1 no feminino contra apenas 2 finais em Atenas) e trouxemos duas medalhas, uma de ouro (A primeira da história da natação brasileira) e uma de bronze, ambas com Cesar Cielo;
– Judô – > Três medalhas de bronze, sendo uma delas a primeira do feminino que também foi a primeira individual de uma atleta feminina. Destaque também para Thiago Camilo, que chegou como o campeão mundial e grande favorito, mas que perdeu uma luta e soube encontrar motivação e superar-se na busca pela medalha de bronze;
– Outros esportes – > No boxe tivemos dois lutadores que chegaram as quartas-de-final. No Taekwondo, tivemos a primeira medalha (bronze) com Natália Falavigna.
Apesar da evolução no número de finais(foram 37 em Pequim/2008, 30 em Atenas/2004, 22 em Sidney/2000 e 20 em Atlanta/1996), estamos longe de sermos uma potência olímpica, pois apenas o vôlei apresenta resultados consistentes e constantes, devido a sua estrutura de excelência, e muitas medalhas são resultado de esforços individuais de alguns atletas, haja vista que o esporte que mais trouxe medalhas na história olímpica brasileira ainda é a vela, que é um esporte de elite. Além disso, as medalhas do Cesar Cielo foram resultados de investimentos próprios do nadador e a medalha de prata do futebol feminino foi conquistada mesmo sem investimentos e um campeonato nacional organizado pela CBF.
Para concluir, dois destaques. O primeiro não poderia deixar de ser para o nadador americano Michael Phelps, o destruidor de recordes mundiais (sete em Pequim) e detentor de oito medalhas em Pequim e 14 no total da sua participação em três olimpíadas, tornando-se o maior vencedor da história dos jogos olimpicos, que, mesmo com todos os holofotes e a pressão em cima, soube manter uma postura de serenidade e auto-confiança, vencendo as suas provas individuais e contando com o trabalho em equipe no revezamento 4X100 metros medley, principalmente com a ajuda do nadador Jason Lezak que largou com meio corpo de desvantagem em relação ao Francês Alan Bernard para os últimos 100 metros no estilo nado livre, detentor do recorde mundial nessa mesma modalidade, mas que o venceu mesmo com essa desvantagem.
O segundo destaque não poderia deixar de ser para as mulheres. A nossa evolução no quadro de medalhas, ainda que pequena, deve-se muito a evolução das mulheres na conquista de medalhas. Evolução que começou em Atlanta com as medalhas de ouro e prata no vôlei de praia, as primeiras do esporte feminino brasileiro, e fechando com Pequim onde tivemos as primeiras medalhas no judô (bronze), a primeira medalha de ouro do esporte individual feminino (salto em distância), a primeira no Taekwondo e a primeira medalha de ouro do vôlei de quadra feminino.
Agora é esperar pelas olimpíadas de Londres em 2012, buscar novas fontes de recursos para investimentos em infra-estrutura e no incentivo ao esporte nas escolas, aprender e corrigir erros cometidos para planejar um novo ciclo olimpico e buscar a superação em busca de mais medalhas para o Brasil.
Um abraço
Leia também os seguintes posts :
Gestão de longo prazo – > Clique aqui para ler;
Importância do planejamento estratégico para o processo decisório – > Clique aqui para ler;
Importância do planejamento estratégico em ambientes de grandes mudanças – > Clique aqui para ler;
E agora Bernardinho? – > Clique aqui para ler;
Livro : Transformando suor em ouro – > Clique aqui para ler;