Pessoal,
tempos atrás, eu escrevi um post sobre a volta do Zico’para o Flamengo(clique aqui para ler sobre) e dessa vez na condição de diretor executivo profissional. Por tudo o que o Zico representou dentro e, principalmente, fora do campo, escrevi que seu nome dentro do Flamengo é indiscutível devido a sua postura sempre profissional durante seus tempos de jogador e também por ter mantido distância de administrações anteriores. Zico poderia representar uma conexão entre todas as correntes políticas existentes dentro do clube.
Antes de prosseguirmos com o texto, quero deixar bem claro que o que vou escrever trata da visão de uma pessoa que apenas acompanhou o noticiário sobre o assunto, mas que não vive o cotidiano do clube e, portanto, não tem como vivenciar e fazer juízo de valor. Apenas quero fazer uma análise dos acontecimentos com uma visão de gestão empresarial.
Zico comunicou o fato de sua contratação via Twitter(@ziconarede) e levantou toda uma esperança da nação rubro-negra por novos tempos no Flamengo. Tempos de maior profissionalismo, dedicação e compromentimento por parte dos jogadores, pois, com ele no comando do Futebol, fica dificil qualquer jogador do Flamengo, como alguns jogadores no passado, dirigir-se a sua torcida com declarações ou atitudes de desprezo, desrespeitando o que os próprios dirigentes do Flamengo afirmam ser seu maior patrimônio.
Depois de algum tempo, começaram a surgir boatos e notícias de que o Zico estava insatisfeito com algumas coisas, notadamente a questão de ter maior autonomia para decidir sobre os assuntos relacionados ao futebol, e também incomodado com notícias que começaram a surgir que atacavam o seu comportamento ético. Diante disso, começaram a surgir alguns movimentos pela Internet visando dar apoio a ele na luta contra essas adversidades, sendo maior exemplo desse movimento, o perfil @comZicopeloFla que em certo momento reuniu vários seguidores para uma visita a Gávea visando demonstrar todo esse apoio ao ídolo maior da torcida.
Mesmo diante desse apoio da torcida, nasceram movimentos dentro do clube, segundo noticiado pela imprensa, que questionavam o contrato que o Flamengo havia celebrado com o CFZ, clube que Zico fundou e que era proprietário, e acusações de possível participação de um de seus filhos na contratação de jogadores para o Flamengo. Denúncias essas que Zico fez questão de derrubá-las.
Esse acúmulo de fatos culminou no seu pedido de demissão no dia 30.09. Passado alguns dias, Zico manifestou-se sobre as razões de porque resolveu pedir demissão. Zico declarou que não se sentiu protegido pela Presidente Patricia Amorim e que não teve autonomia que ele considerava necessário para fazer as mudanças que ele gostaria de fazer e com a celeridade que gostaria. A gota d’água desse processo foi quando a presidente Patrícia não permitiu que ele fosse ao conselho fiscal defender-se das acusações que envolviam o contrato do Flamengo com o CFZ.
Analisando tudo o que aconteceu e as declarações e depoimentos que a imprensa esportiva divulgou em sites e jornais, quero apresentar minhas opiniões:
– Problema de comunicação: Zico alegou que não se sentia protegido pela Presidente Patricia. Não sei em relação a outros acontecimentos, mas no caso da defesa no conselho fiscal referente a questão contratual do CFZ, foi justamente isso que aconteceu. Segundo o que ouvi e li na imprensa, a presidente Patricia Amorim procurou preservar o Zico do desgaste de ir ao conselho fiscal. O que pode ter ocorrido aqui foi justamente um problema de comunicação entre os dois, problema esse reconhecido pela própria presidente. O mesmo Zico alega que volta e meia você precisa bater na mesa para impor sua opinião, mesmo que isso desagrade a algumas pessoas, pois é justamente isso que ele deveria ter feito para manifestar com maior veemência sua vontade de ir ao conselho fiscal para se defender;
– Falta de autonomia: Antes de trabalhar no Flamengo como diretor executivo do futebol, Zico trabalhou em clubes europeus e foi o grande responsável pelo crescimento do futebol no Japão, ou seja, trabalhou com outras culturas de gestão. No Brasil, ainda temos uma cultura muito ultrapassada que concentra poder em poucas pessoas e fragmenta a responsabilidade em várias áreas, mantendo uma cultura burocrática que privilegia a segurança e a conformidade em detrimento da agilidade e da flexibilidade. Essa é uma cultura que não se muda em pouco tempo, pelo menos não em quatro meses, período em que Zico esteve no Flamengo. Uma mudança cultural só pode ser alcançada a médio e longo prazo;
– Disputa pelo poder: Uma vez eu ouvi de um reporter que faz a cobertura do cotidiano do Flamengo e ele argumentou que o Flamengo era o clube que mais tinha ex-presidentes vivos e que, portanto, haviam várias correntes políticas dentro do clube. Cada ex-presidente é responsável por uma corrente, o que acaba por desunir e dificultar a gestão do clube;
Entre outras declarações, Zico fez uma avaliação de seu trabalho como dirigente e se deu nota abaixo de 5 em razão do insucesso na questão de contratações para o time profissional. Na minha opinião, do mesmo jeito que não se pode fazer uma mudança cultural em quatro meses, também não se deve fazer uma avaliação do trabalho de um executivo baseado em quatro meses de trabalho. O trabalho de um executivo, como era o cargo de Zico no Flamengo, só pode ser avaliado a médio-longo prazo.
Outra declaração foi que ele só voltaria ao Flamengo na condição de presidente do clube para fazer o que ele acha necessário. Também acho um equívoco ele pensar que o cargo de presidente é suficiente para fazer as mudanças necessárias, ainda mais em um clube de futebol. É preciso que haja um entedimento comum de que são necessárias mudanças e que continuar com o mesmo pensamento de gestão, estruturas organizacionais e atitudes arcaicas só levarão aos mesmos resultados alcançados no passado e que dificilmente trará resultados diferentes.
Nesses acontecimentos todos, entendo que o Zico deveria seguir o próprio conselho que ele apresentou quando, em entrevista coletiva, assumiu o cargo de executivo do futebol do Flamengo. Na ocasião, ele disse que retornava sem assumir ares de salvador da pátria, ou de um Deus, pedindo a torcida para deixar de lado as cobranças de falta precisas, as arrancadas do meio-de-campo até o gol e os dribles geniais e passassem a se concentrar em seu futuro como dirigente. Chegou afirmando que nem tudo estava errado, pois ninguém ganha tanto com tudo errado (1 campeonato brasileiro e Copa do Brasil mais 7 campeonatos cariocas em 11 disputados), mas que chega para somar com sua visão de profissionalismo que, entre outras coisas, ajudou a revolucionar o futebol no Japão.
Entendo que houve erros e acertos tanto da parte do Zico quanto do lado da presidente Patricia Amorim. O que não concordo é com o tratamento que algumas correntes políticas dentro do clube deram ao ídolo maior do Flamengo, tentando atingir a pessoa do Zico. Criticas ao trabalho como dirigente são aceitáveis e até mesmo saudáveis, mas ataque pessoal é uma atitude condenável em qualquer empresa.
Como disse no inicio, essa é a minha visão diante das informações que tive acesso através da imprensa. Não quero colocar-me como dono da verdade, pois os únicos que podem falar com propriedade sobre os acontecimentos são as pessoas que vivenciaram os acontecimentos.
Um abraço.
“Keep the Faith”
Twitter: @blogdomarcelao