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Forum Mundial de Estratégia HSM 2008 – Impressões – Parte II

Posted by Marcelão em agosto 14, 2008


Pessoal,

              continuando a série sobre o evento organizado pela HSM, vamos abordar a segunda parte da palestra de Vijay Govindarajan sobre “Como construir negócios altamente inovadores dentro de um negócio lucrativo existente”.

               O palestrante abordou a dificuldade que as empresas possuem em evoluir seus modelos de negócios para modelos mais adaptados a nova economia, uma economia da era digital. Podemos fazer aqui uma analogia com a tese do professor adjunto da Harvard Business School, Clayton M. Christensen, que elaborou a tese do “Dilema da Inovação” que assume a posição radical de que grandes empresas fracassam exatamente porque fazem tudo certo. Ele demonstra por que boas empresas, mesmo mantendo sua antena competitiva ligada, ouvindo os clientes e investindo agressivamente em novas tecnologias, perderam sua liderança no mercado quando se confrontaram com mudanças tecnológicas de ruptura e incrementais na estrutura do mercado.

               Construir um negócio altamente inovador dentro de um negócio lucrativo existente envolve gerenciar muitos conflitos entre os dois modelos de negócio e, principalmente, construir a nova estrutura sem carregar o modelo mental do negócio anterior, tomando emprestado (horizonte 2) apenas alguns ativos.

               Essa não é uma tarefa fácil e exigirá muita disciplina da empresa, pois, afinal de contas, Thomas Edson já dizia que a inovação é 1% inspiração e 99% transpiração. E esse problema torna-se maior ainda, pois, segundo o palestrante, as pessoas passam muito pouco tempo pensando na execução, porque ter idéias é mais atraente do que executá-las e consome poucos recursos. Nesse ponto, é bom esclarecer a diferença entre criatividade e inovação. A criatividade está ligada a idéias e a imaginação, enquanto que a inovação está ligado ao fazer, a comercialização da criatividade.

               Para exemplificar a sua tese, o palestrante citou o case do jornal New York Times cuja proposta de valor para seus clientes é entregar conteúdo premium a preço premium com uma arquitetura de valor que consiste nas operações de colher notícias, gerar assinaturas, vender anúncios, imprimir e distribuir. Ocorre que nessa era digital, o mundo inteiro passa a ser seu cliente, predominantemente de pessoas mais jovens do que os leitores do jornal impresso, o que exige uma nova proposta de valor.

            Essa transição do New York Times não foi um projeto fácil, sendo que o principal problema enfrentado foi esquecer o que era necessário deixar para trás (horizonte 2), pois as lembranças de como ter sucesso no mundo impresso eram carregadas para o mundo digital, além do conflito com o modelo de negócio anterior (jornal impresso) que disputava recursos com o novo modelo (jornal digital), problema esse potencializado pelo fato de que o gerente geral do jornal digital era subordinado ao gerente geral do jornal impresso, que dava preferência a alocar os recursos ao jornal tradicional.

            Nesse caso de transição de modelos de negócio, são três os desafios da execução dessa estratégia que são : Esquecer, Tomar emprestado e aprender. O que se esquece e o que se aprende é diferente do que deve ser tomado emprestado, ou seja, como salientou o apresentador, se você não esquecer, não conseguirá aprender. Esquecer envolve deixar para trás os pressupostos (hipóteses), vieses e modelos mentais do negócio anterior, enquanto tomar emprestado envolve, no caso do New York Times, pegar alguns ativos emprestados do jornal impresso como a marca, a expertise, capacidade de produção e o relacionamento com os clientes.

            Vijay considera que os fatores mais criticos no desafio de esquecer são a cultura de promoções internas, de longas carreiras e de ênfase na gestão do desempenho. Somavam-se a isso um vigoroso desempenho financeiro do negócio e mecanismos fortes de socialização, que faziam com que os novos se adaptassem rapidamente à cultura antiga.

            

            No caso do New York Times, o sucesso da transição começou a surgir a partir do momento em que o gerente geral do jornal digital passou a ter o mesmo nível do gerente geral do jornal impresso e a proporção de pessoas de fora na equipe do veículo digital em relação às pessoas da casa aumentou, o que comprova que “as escolhas organizacionais fazem muita diferença entre o sucesso e o fracasso de um novo negócio inovador”, segundo Vijay.

            No final de sua apresentação, Vijay apresentou às dez regras fundamentais para os negócios inovadores que são criados dentro de negócios lucrativos já existentes. Essas regras contemplam os desafios de esquecer o aprendizado obtido na empresa antiga, de tomar emprestado alguns ativos dessa empresa e, principalmente, de aprender na nova realidade :

               1. Idéias são apenas pontos de partida.
               2. A nova empresa deve contratar gente de fora para cargos influentes.
               3. A nova empresa deve prestar contas a um nível hierárquico acima do nível em que se encontra a empresa original.
               4. A nova empresa deve ter métricas de desempenho distintas das métricas usadas pela empresa antiga.
               5. Somente um ou dois dos ativos mais valiosos da empresa principal devem ser mantidos.
               6. Tensões existirão entre as duas empresas e o líder deve gerenciá-las.
               7. Deve-se facilitar para que a empresa principal faça empréstimos.
               8. A nova empresa deve ser responsabilizada pelo aprendizado.
               9. O processo de planejamento da nova empresa deve ser mais freqüente, para estimular o aprendizado e se chegar mais rapidamente da fase de premissas à fase de conhecimento.
              10. As reuniões de planejamento das duas empresas devem ser separadas.

            Vijay coloca aos presentes os desafios da liderança que deseja ter sucesso na criação do futuro:

               1. Foco excessivo no desempenho imediato. “Encontrei líderes que falam muito sobre o curto e o longo prazos, mas focam só o curto.”
               2. Forte tendência de dividir a empresa em unidades estanques. “Criar o futuro exige capacidade de conexão entre as unidades.”
               3. Falta de clima para assumir riscos. “Quanto maior a organização, maior o problema da assunção de riscos.”
               4. Falta de incorporar a inovação às capacidades da organização. “Uma pessoa não consegue inovar, nem um pequeno grupo. Inovação tem que ser uma capacidade embutida. Todos os funcionários têm que se sentir inovadores.”
               5. Falta de uma mentalidade global.
 

            Eu, particularmente, já vinha comentando em alguns pontos sobre esses desafios da liderança no que diz respeito a visão de curto prazo, a empresa organizada em silos estanques, falta de clima para assumir riscos e não incorporação da inovação a cultura da empresa como vocês poderão ver nos links abaixo relacionados. A visão de curto prazo traz resultados imediatos, mas são resultados que não são duradouros e sustentáveis no longo prazo, enquanto que a organização baseada em silos estanques dificulta a colaboração entre os setores e consequentemente a criação de uma cultura inovadora na empresa, agravado pela cultura de punição ao erro ao invés de usar o erro como instrumento pedagógico para melhoria contínua.

Um abraço.

P.S : O próximo post será sobre a palestra de C.K. Prahalad

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Forum Mundial de Estratégia HSM 2008 – Impressões – Parte I

Posted by Marcelão em agosto 14, 2008


Pessoal,

             como havia prometido, começo hoje a escrever sobre o evento organizado pela HSM que foi o “Forum Mundial de Estratégia 2008”.

             Para começar, é bom esclarecer que boa parte do que vou escrever nesse post está disponível no site da HSM no link : http://www.hsm.com.br/canais/coberturadeeventos/fme2008/index.php? . Ao conteúdo disponível no site da HSM, eu vou acrescentar minhas opiniões e as relações que identifiquei no cotidiano das empresas.

             A primeira palestra do dia foi realizada pelo professor Vijay Govindarajan da Tuck School of Business, da Dartmouth University, e autor de “Os 10 Mandamentos da Inovação Estratégica”.
             O pilar da palestra de Vijay foi sobre Estratégia como criação do futuro. As empresas que desejem competir no futuro devem equilibrar seus esforços em 3 horizontes : 

             1 – Gerenciar o presente(Core Business);

             2 – Esquecer seletivamente o passado(Espaço adjacente);

             3 – Criar o futuro(Negócios totalmente novos);

             Na visão de Vijay, muitas empresas pensam que gerenciar a estratégia é estar no primeiro horizonte (Gerenciar o presente) e poucas pensam no que devem fazer hoje para chegar ao futuro. Lembrando Peter Drucker : “Planejar é pensar o que você deve fazer hoje para merecer o amanhã”. Estratégia diz respeito a como se cria o futuro administrando o presente, sendo que para isso é preciso contruir um novo modelo mental, pois o pensamento necessário para desempenhar no presente é diferente do pensamento para criar o futuro. Para o presente é necessário utilizar a competência de análise e para o futuro é preciso utilizar a competência de imaginação.

             Um exemplo de empresa que está pensando no futuro é a GM com seu projeto “7 of 2030” que consiste em 7 estagiários de designer que estão pensando no carro do futuro em 2030. Resta saber se a GM irá sobreviver em virtude dos últimos problemas que ele vem enfrentando devido a complexidade de sua operação e a perda da sua liderança mundial para a Toyota. Esse case já foi comentado aqui nesse blog no link : https://marcelao.wordpress.com/2008/07/12/recomendacao-de-programa-de-tv/

             O palestrante argumentou que as empresas devem seguir um manual do crescimento que envolve saber identificar as mudanças não-lineares e criar um intenção estratégica para criar o futuro. Esquecer seletivamento o passado envolve pensamento não-lineares, identificar padrões e fazer associacões que ninguém consegue enxergar, característica essa presente nas pessoas que possuem espirito empreendedor. O objetivo é criar novos negócios identificando as mudanças de comportamento dos clientes/consumidores, pois a descontinuidade dos clientes exigirá a geração de novos negócios. 

             Isso envolve em identificar o seu Core Bussiness (negócio essencial) e como você consegue acrescentar inovações incrementais a ele para ampliar o seu espaço de atuação de forma a atender os seus não-clientes. Além disso, é preciso pensar em espaços totalmente novos, sem relações com os produtos atuais, em idéias malucas baseadas em hipóteses e premissas procurando identificar mudanças não-lineares no comportamento do consumidor moderno.

             O palestrante citou dois casos de empresas que não tiveram competência para esquecer o passado que foram a Enciclopédia Britânica e a Xerox. No caso da Enciclopédia britânica, o negócio essencial (Core Business) era oferecer conhecimento, sendo que a forma para esse negócio foi reproduzi-lo de forma encadernada ao preço U$3.500,00 utilizando uma rede de vendedores que ofereciam o produto de porta em porta. Ocorre que o mundo passou por uma mudança que o transformou de analógico para digital. O que ocorreu é que a Microsoft lançou a enciclopédia Encarta em CD-ROM ao preço de US50,00 sendo vendida em lojas e supermercados. O que fez a empresa responsável pela Enciclopédia Britânica? Lançou sua enciclopédia em CD-ROM com a seguinte proposta : “experimente o CD e será grátis, se você comprar a coleção de livros a US$ 2.000. Mas, se você não quiser comprar os livros em papel, pagará US$1.500 pelo CD”. Não é preciso explicar muito porque essa estratégia não funcionou e a empresa quebrou.

               Outro caso citado pelo autor foi a Xerox cujo modelo de negócio voltado para os escritórios era baseado no dominio de patentes, força de vendas direta, organização de serviços, estrutura de leasing e na força da sua marca. Algumas empresas como a IBM e a Kodak tentaram entrar nesse mercado, mas utilizaram as mesmas estratégias e, por essa razão, não obtiveram sucesso. Até que veio a Canon com sua estratégia de impressoras pessoais criando um novo mercado que era ignorado pela Xerox. Embora a Xerox seja a inventora do escritório moderno com produtos como impressão a laser, a Xerox lucrou muito pouco com sua criatividade, ela perdeu muito mais oportunidades por não ter regenerado sua estratégia principal e reinventado seu conceito de empresa.

               Criar o futuro exigirá das empresas a criação de uma nova arquitetura estratégica por meio de uma intenção estratégica que seja motivadora e desafiante a todos os colaboradores da empresa. Criar uma intenção estratégica é buscar ampliar as possibilidades, estabelecer objetivos não realistas e ambiciosos (Visão da Coca-Cola : Matar a sede do mundo). É mirar acima do alvo para atingir o alvo. A intenção estratégica funciona como um direcionar das ações de todos os setores da empresa, pois a direção é mais importante que a velocidade.

              Para isso será necessário pensar nas competências que precisarão ser desenvolvidas hoje para se criar o futuro. Investir no legado apenas geram conhecimentos legados. Envolve a mudança no papel dos gestores de controladores para facilitadores do conhecimento dentro da empresa, entendendo que a sua responsabilidade é transformar o conhecimento em ações e resultados. O próprio palestrante citou o filme Apolo XIII em que nenhuma das soluções para trazer a nave de volta a terra partiu do “CEO” interpretado pelo ator Richard Harris. Ele apenas apresentou as perguntas a serem respondidas como na cena em que ele desenhou no quadro o ponto até onde o combustível restante na Apolo XIII levaria e a distancia que ainda faltava para trazer os tripulantes vivos de volta a terra.

              Para fechar esse post, cito as perguntas que Vijay sugeriu que os gestores, presentes no evento, façam ao voltarem para suas empresas :

  • Existem projetos suficientes nos três horizontes?
  • Quantos projetos estão no horizonte 1, que é o do negócio essencial (core business), do qual vêm os lucros?
  • Quantos estão no horizonte 2, o do “espaço adjacente”, que pode ser um espaço de produto, de clientes e de geografia?
  • Quantos projetos de 2008 estão no horizonte 3, o do totalmente novo?
  • Será que estamos gerenciando esses projetos de maneira diferenciada?

              Como citado no resumo disponível no site da HSM ( http://www.hsm.com.br/canais/coberturadeeventos/fme2008/vijay_govindarajan3_050808.php? ) : “Cada horizonte pede uma abordagem. No terceiro horizonte, no espaço de criar o futuro, um projeto começa com 90% de premissas e 10% de conhecimento, ou seja, o desafio é converter premissas em conhecimento. “Gaste pouco e aprenda muito”, aconselha V.G. “Mantenha o custo de fracasso baixo e, assim, você pode fracassar com mais freqüência.” No horizonte do presente, ocorre o contrário: 90% de conhecimento.”

              Esse resumo é referente a primeira parte da palestra do Vijay. No próximo post, escreverei sobre a segunda parte da palestra que foi sobre “Como construir negócios altamente inovadores dentro de um negócio lucrativo já existente”.

Um abraço e até lá.

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