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A ciência da velocidade, Schumacher e o aprendizado

Posted by Marcelão em abril 18, 2010


Pessoal,

gosto muito de acompanhar as corridas de F-1 mesmo que não tenhamos brasileiros disputando títulos porque, como grande interessado em tecnologia, trata-se de uma categoria carregada de inovações e de evolução contínua e está sempre encontrando formas criativas de tornar os carros mais rápidos, apesar das tentativas de reduzir a velocidade dos carros utilizando o regulamento para esse fim, além de ser fonte de inovações para várias melhorias implementadas nos nossos carros como o freio ABS, por exemplo.

Esse post é sobre essa evolução contínua e colocar minha opinião sobre o porquê da pífia participação do heptacampeão mundial Michael Schumacher ao retornar a F-1 esse ano.

Ontem a tarde, eu assisti a um programa da Discovery Turbo chamado “A ciência da velocidade”. Você pode pensar que o programa trataria das melhores máquinas e como elas atingiam grandes velocidades, mas você está enganado. O programa foi sobre a velocidade de processamento do cérebro humano.

O que o programa mostrou é que na F-1 a evolução dos motores é muito veloz e os estudos e aperfeiçoamentos realizados nos carros buscam ganhar milisegundos de melhoria, mas que, com o tempo, as equipes de ponta da F-1 passaram a se preocupar também com a velocidade de processamento do cérebro do piloto para acompanhar essas evoluções e para isso estavam contratando neurocientistas para prestar assessoria aos seus pilotos. Chamou-me a atenção o depoimento do piloto Pedro De La Rosa, piloto de testes da Mclarem a época, que hoje seria impossível para alguém dirigir um carro de F-1 sem ter passado pelas categorias anteriores. Aliás, a preocupação das equipes não se resumia somente a questões do cérebro, mas também a questão física dos pilotos principalmente quanto a pescoço e ombros, pois durante a corrida eles chegam a receber uma força equivalente a 4G (quatro vezes a gravidade).

O neurocientista que participou do programa explicava que o piloto de F-1 precisava considerar várias variáveis matemáticas ao longo da corrida e precisava ter o seu cérebro preparado para responder de forma bastante veloz a qualquer mudança de circunstâncias durante a corrida. Para isso, ele precisava desenvolver o seu cerebelo.

O cerebelo é a parte do encéfalo responsável pela manutenção do equilíbrio e pelo controle do tônus muscular e dos movimentos voluntários, bem como pela aprendizagem motora, dependemos do cerebelo para andar, correr, pular, andar de bicicleta, etc. Ele é responsável pelos nossos reflexos. Para se ter uma idéia, quando pisamos em um prego, o reflexo de levantar o pé é comandado pelo cerebelo.

O Neurocientista argumentou que o cerebelo é responsável por armazenar nossas respostas automáticas mais utilizadas durante a nossa vida. É como se ele fosse o mecanismo de PageRank do Google quando fazemos uma busca por alguma resposta. No documentário, o neurocientista utilizou o exemplo de bebês que, quando começam a aprender a andar, começam cambaleando e acumulando respostas sobre como andar, até o momento em que ele passa a possuir uma quantidade de respostas suficientes sobre como andar e passa a armazena-las no seu inconsciente, ou seja, no cerebelo.

No documentário, o neurocientista faz um teste com o piloto Victor Antonio Liuzzi e acompanha-o durante uma volta em uma pista utilizando um protótipo. Ao perceber que o piloto tinha dificuldade em uma determinada curva, o neurocientista passa a treinar a mente do piloto para melhorar seu desempenho naquela curva utilizando uma música tocada por uma orquestra sinfônica pedindo ao piloto que tentasse distinguir separadamente os instrumentos utilizados na sinfonia, ou seja, ele estava fazendo com que o piloto aprendesse a separar as variáveis envolvidas.

Feito isso, ele aplica o método que ele chama de “Prática Mental”em que ele coloca o piloto em estado quase hipnótico e passa a desenhar um quadro da curva que precisa ter seu desempenho melhorado, algo que não é possível dentro do carro na pista, pois o piloto é distraído pelo ambiente e devido a velocidade ser muito grande. Dessa forma, ele conseque acertar os processos físicos do piloto, fazendo-o perceber as sutilezas do processo e expandindo sua percepção do ambiente. O resultado foi que o piloto diminui em 2 segundos o tempo da sua volta simplesmente freiando dois ou três metros antes do ponto anterior.

O objetivo desse exercício é aumentar a quantidade de soluções prontas no cerebelo e, dessa forma, aumentar a velocidade de resposta a mudanças no ambiente.

O que isso tem a ver com o ex-campeão Schumacher? Tudo a ver. Schumacher ficou três anos sem pilotar um carro de F-1. Nesse período, aconteceram inúmeras micro-evoluções nos carros que somados geram uma gigantesca evolução. O resultado disso é que o cerebelo dele já não armazena uma quantidade de respostas suficientes para se adaptar as novas variáveis criadas com essa evolução constante dos carros de F-1 e ao salto tecnológico realizado nesses últimos três anos.

O que isso tem a ver com o seu aprendizado? Simples. Lembram do texto do professor Mintzberg (“Primeiro pense, Primeiro Veja e Primeiro faça”)? Uma das teorias utilizadas para fundamentar o texto foi a popularizada por Karl Weick, professor de comportamento organizacional, que se resume a “realização, seleção e retenção”. Significa fazer várias coisas, descobrir quais funcionam, entender a razão, repetir os comportamentos mais eficientes e descartar o restante. As pessoas bem-sucedidas sabem que, quando estão entaladas, devem experimentar. O pensamento pode levar à ação, mas esta, certamente, também pode direcioná-lo. Simplesmente, não pensamos para agir; agimos para pensar. (leia mais aqui)

Outra teoria utilizada foi a tese do professor  James Marche que caracteriza o processo de tomada de decisão como uma “séries de soluções à procura de problemas, questões e impressões à procura de situações decisivas nas quais possam se manifestar, soluções à procura de questões às quais possam ser uma resposta e tomadores de decisão à procura de trabalho”. É como se as soluções estivesse armazenadas no nosso inconsciente a espera apenas de uma situação que dispare o gatilho e as desperte o que pode justificar o porque de algumas decisões, que tomamos de forma repentina, darem mais certo do que algumas que tomamos com calma e sem pressa. Já dizia Einstein : “Se quiser ter uma boa idéia, tenha uma porção de idéias.”

Essa tese reforça ainda mais a idéia que devemos estar sempre nos preparando e com a mente aberta para novos aprendizados, pois essa é uma ação que faz com que nós aumentemos o número de soluções a espera de uma situação que as dispare, além de desenvolver as competências ligadas a visão estratégica, o que aumenta a confiança para enxergar o que os outros não vêem devido ao acumulo de conhecimentos e experiências.

Portanto, Vale lembrar o que já escrevi em posts anteriores, o cérebro é um músculo que precisa ser exercitado, senão atrofia.

“Nós somos o que fazemos repetidas vezes, repetidamente. A excelência portanto não é um feito, mas um hábito.” Aristóteles – Filósofo Grego

Um abraço.

“Keep the Faith”

2 Respostas to “A ciência da velocidade, Schumacher e o aprendizado”

  1. Parabéns pelo post. Abração !!!

  2. Léo Vagner said

    OLá Marcelo,

    Já havia lido à algum tempo, na coluna do Renato Mauricio Prado, sobre o uso de neurocientistas na F1, tendo como exemplo, o Hamilton, que é acompanhado por um desde seu apadrinhamento pelo Ron Dennis.

    É muito interesse ver, que, com o certo preparo, a máquina humana é capaz de aumentar em muito seu desempenho.

    Será que técnicas assim, não poderiam ser aplicadas às Lideranças?

    Abraço,

    Obrigado pelo post.

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