Enxergue de forma mais abrangente

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Pessoal,

                no mestrado que estou cursando, eu tenho que ler alguns textos sobre competências nas organizações e o texto que estou lendo atualmente é sobre o desenvolvimento de competências já existentes dentro das empresas, o que chamaos de knowledge exploitation ou, em uma tradução mais literal, exploração do conhecimento. Entre os fatores que dificultam o desenvolvimento de competências já existentes dentro da organização é o fator miopia gerencial.

                Ao ler sobre esse fator, lembrei de varios casos de miopia que poderiamos citar. Entre eles, vou citar três casos, sendo dois recentes e um mais voltado para a gestão nas empresas.

                O primeiro caso que me veio a mente foi sobre o cadastro criado em São Paulo para que a população tivesse a possibilidade de manifestar sua vontade em não receber chamadas de telemarketing das empresas para venda de produtos. A lei prevê que as empresas não podem ligar para nenhuma das pessoas que tenham realizado esse cadastro junto a prefeitura de São Paulo. Uma vez eu perguntei a um gerente de telemarketing, que conheci por acaso, porque esse tipo de serviço existia, uma vez que era fonte de reclamação de várias pessoas que conheço. Ele me disse que, apesar do altíssimo número de rejeições, as chamadas que resultavam em venda de produtos compensavam os custos e ainda geravam lucros para a empresa. Na minha opinião, esse é um exemplo clássico de enxergar apenas o tangível e não ter uma visão abrangente que enxergue o custo intangível de exposição negativa da marca em virtude dos incomodos gerados por esse tipo de abordagem.

                Outro caso de visão pouco abrangente envolve a Rede Globo. A Rede Globo tem como politica não falar nomes de empresas para evitar fazer propaganda gratuita. Não estou aqui para discordar de tal politica, mas em alguns casos chega ao exagero como no caso do programa “Fantástico” em que a reportagem era sobre o Twitter e as pessoas não podiam falar o nome “Twitter”. 

                Voltando ao tema do post, se olharmos de forma mais abrangente, essa politica joga contra a própria Globo, principalmente nos eventos esportivos. Se vocês repararem, nenhum locutor esportivo da Globo pode falar o nome de empresas que dão nome aos times como, por exemplo, na Formula-1 o caso da Red Bull Racing que eles chamam de RBR, no volêi feminino que o time do Finasa-Osasco era só Osasco, no basquete em que o time do Universo de Brasilia é chamado apenas de Brasilia. Tal politica joga contra a Globo porque grande parte dos recursos financeiros que mantém essas equipes em atividade são realizados por esses patrocinadores, ou seja, se não existirem patrocinadores dificilmente teremos investimentos suficientes no esporte para mante-lo em alto nível. Não existindo um esporte de alto nível, a audiência dos eventos esportivos da Globo podem cair e chegar a serem cancelados. Se forem cancelados, a Globo terá que investir na produção de programas, que possam preencher o espaço deixado pelos esportes na programação, o que pode ser um investimento de risco.

                O terceiro caso envolve a gestão das empresas, onde a pergunta que podemos fazer é : quanto vale uma empresa da nova economia?       

                No século passado uma empresa era composta de 85% de capital tangível como valores financeiros e patrimônio (máquinas, mobiliário, …), e os 15% restantes da empresa era capital intangível (conhecimento). Neste século, esses percentuais inverteram-se, conforme vocês podem reparar na figura abaixo, passando a empresa ser composta de 85% de capital intangível. Isso explica o porquê da Microsoft ter apresentado no passado uma proposta de aquisição do Yahoo com valor de 62% acima do estipulado pelo mercado na bolsa de valores.

            Diante dessa mudança, onde os ativos intangíveis passaram a ser preponderantes sobre os ativos tangíveis, a dificuldade está em estabelecer qual o valor real de uma empresa. O instrumento atualmente utilizado para medir o valor das empresas é a contabilidade que tem como função prover os usuários com informações sobre aspectos de natureza econômica, financeira e física do patrimônio da empresa, segundo o Conselho Federal de Contabilidade.

          Notem que o foco está em patrimônio, onde podemos supor que a contabilidade atual consegue definir o valor de uma empresa do século passado, mas não está adaptada para medir o valor de uma empresa do século XXI. Realidade essa referendada pelo mercado acionário que, há muito tempo, sinaliza que os registros e balanços contábeis não decidem mais o valor das companhias. O humor do mercado de ações varia muito mais em função das novidades intangíveis do que a evolução dos indicadores financeiros.

             Tomemos como exemplo uma empresa de consultoria. Como poderemos avaliar o valor de uma empresa de consultoria? Pelos móveis e computadores existentes ou pelo conhecimento e experiência dos consultores da empresa?

              E no caso do Yahoo? O que a Microsoft compraria? Mesas, cadeiras, computadores, prédios? Claro que não. Ela está comprando a capacidade de inovação do Yahoo e uma estrutura de serviços na Internet para fazer frente ao seu principal concorrente que é o Google.

              A pergunta é : Caso a proposta de aquisição tivesse sido aceita, o que faria a Microsoft se os colaboradores do Yahoo resolvessem pedir demissão ou recebessem uma proposta de maiores benefícios por parte do Google?

               O que podemos notar é que o capital intelectual(intangível) tem um peso muito maior no século XXI do que no século passado. A dificuldade estará em estabelecer padrões que possam medir a importância desse capital para o desempenho e geração de lucros pelas empresas.

                Portanto, para ter sucesso no cenário atual é preciso enxergar as coisas de forma mais abrangente. Para que você e sua empresa se diferencie dos demais é preciso enxergar além do óbvio.

Um abraço.

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